O novo momento do ecommerce também traz um desafio ambiental

Com o tempo em casa durante a pandemia, as pessoas optam pelas compras em lojas digitais e deliveries de restaurantes e supermercados. Mais itens comprados ‘para viagem’ ou entregues via app significam mais pacotes, embalagens, plástico e papel empregados no processo. As maiores empresas do setor no Brasil chegaram a lidar com um volume de pedidos 50% maior nos últimos meses – a produção em uma delas chega a mais de 50 milhões de embalagens por mês de acordo com apuração da rede TV Tem. Com isso, cresce também a quantidade de lixo produzido.

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) projeta que as medidas de distanciamento social devem causar um pulo de 15% a 25% na produção de resíduos sólidos (lixo orgânico e reciclável) das residências, segundo a agência FolhaPress. A Associação aponta também que boa parte do volume de lixo coletado vai parar nos aterros sanitários, já que preocupações com a disseminação do novo coronavírus significou o fechamento de parte dos centros de reciclagem.

O problema, de caráter global, significou mundaças para marcas ao redor do globo. A empresa de beleza Tatcha anunciou recentemente planos de fazer todas suas embalagens serem reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis até 2023. Ao Business of Fashion, Sarah Curtis Henry, diretora de marketing da Tatcha, disse que o compromisso passa por uma série de decisões, incluindo métodos de entrega que possam dar suporte ao uso de embalagens de vidro no lugar de plástico ou a aposta em novos materiais.

“Uma das coisas que torna isso tudo desafiador é pensar que recursos precisamos, quanto eles custam e quais as implicações do seu uso para parceiros e fornecedores”, diz Srah Curtis. “Há todo um ecossistema com o qual precisamos trabalhar”.

Já a loja online australiana The Iconic decidiu apostar as fichas em sacolas fabricadas totalmente através do reuso de plástico jogado fora. A varejista, que antes havia introduzido embalagens compostáveis, acredita que o impacto possa ser maior com a reciclagem, já que na Austrália muito de seus clientes não têm acesso a composteiras. A estratégia fez parte de um trabalho de 18 meses e incluiu até mesmo uma mudança de logo: a impressão do branco sobre o fundo preto resultava em escorrimento e em tonalidades estranhas (a solução foi inventer as tintas e relançar o símbolo em versão preta).

No Brasil e no mundo, lojas tem experimentado soluções como estratégias de sequestro de carbono junto dos consumidores ou pontos fixos de resgate das compras em cidades, possibilitando menos viagens – e portanto menos emissões – no processo de entrega. Mas outro problema surge no pós-compra: quando o comprador retorna o item à loja. Já não é de hoje que marcas como Nike e Gucci apostam em realidade aumentada como uma maneira de sanar parte desse problema: hoje em dia, é mais fácil saber se uma peça vai ou não caber, embora esse tipo de coisa nem sempre seja ciência exata. Segundo dados da companhia Optoro, 5 bilhões de itens voltam às lojas nos EUA todos os anos. Esse vai e vem resulta em 15 milhões de toneladas de gás carbônico jogadas na atmosfera e mais de 2 mil toneladas de lixo em aterros.

GQ. O novo momento do ecommerce também traz um desafio ambiental. Disponível em: https://gq.globo.com/Prazeres/Sustentabilidade/noticia/2020/08/o-novo-momento-do-ecommerce-tambem-traz-um-desafio-ambiental.html. Acesso em: 17 ago. 2020.