Ao Valor Investe, CEO da Santander Asset, Gilberto Abreu, explica estratégia de incluir princípios sustentáveis em toda a análise de fundos da gestora e baixar aplicação mínima de todos os produtos do varejo para R$ 100
Desde que ficou claro, há pouco mais de dois anos, que a taxa de juros do Brasil deve ficar baixa por algum tempo, o mercado de gestão de recursos vem se modernizando e crescendo. Enquanto novas gestoras abrem as portas (e novos fundos de investimentos), quem já estava lá corre para ampliar a oferta de produtos e atender a um cliente mais sofisticado e assediado pela crescente concorrência. A Santander Asset, gestora do banco espanhol, é uma delas.
Desde que assumiu a asset em fevereiro deste ano, Gilberto Abreu, que antes estava na diretoria de investimentos do banco, está trabalhando em três novas frentes: sustentabilidade, produtos internacionais e acessibilidade dos fundos já disponíveis.
A primeira é a inclusão de critérios de sustentabilidade, ESG (sigla para ambiental, social e de governança corporativa), em todos os seus fundos, um processo que será implementado de acordo com métricas e diretrizes desenvolvidas pela matriz, em Madri.
“Todos os empréstimos do banco já têm análise de impacto ambiental. Na asset era uma preocupação, mas materializada no Ethical [fundo de investimento ESG criado em 2001 pelo então Banco Real]”, diz o executivo com exclusividade ao Valor Investe. “Agora vamos adaptar tudo que a gente já fazia a metodologias globais ESG”, completa.
Abreu explica que as diretrizes do que chama de “rating ESG” foram desenvolvidas pela matriz com base em parâmetros internacionais. Mas, cada região poderá usar o seu conhecimento sobre as empresas locais para adaptar o modelo e também incluir as informações coletadas localmente na base central de análise ESG, na Espanha. O que antes o Santander global já aplicava para 200 fundos agora passará a ser observado em escala global.
“A nossa ideia é não apenas lançar fundos de terceiros nessa pegada, mas dar um passo além: queremos que todos os fundos da asset tenham um passo ESG na análise. Daremos transparência ao cliente sobre qual o rating (escala) de sustentabilidade dos produtos”, explica Abreu. Ele diz que essa revisão inclui fundos de ações locais, fundos imobiliários e outros e, se necessário, os portfólios desses produtos serão alterados para incluir os novos critérios.
O executivo contextualiza que essa mudança faz parte de uma nova ordem de investimento no mundo, em que as questões ESG deixam de serem preocupações apenas de investidores institucionais, que já se preocupam com risco e avaliam a sustentabilidade nos negócios que investem. Mas passa a ser uma preocupação também da pessoa física, que não quer que seu dinheiro investido seja direcionado para algo que ela não concorde.
“Isso tem um potencial impacto no agronegócio, na indústria de energia, na indústria de transformação, em todos os negócios. Passa a ser uma questão de compromisso e se transforma em uma agenda que os gestores precisam olhar para não perder relevância”, destaca o executivo.
A forma como a ótica ESG será aplicada nos produtos de investimentos no Brasil ainda está em discussão. Mas algo que o banco está avançando já a passos largos é o relançamento de seu produto ESG puro, o fundo Ethical.
Segundo Luzia Hirata, analista ESG do Santander Asset Management e Membro do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da Anbima, o fundo está passando por uma completa revisão de metodologia e carteira para se alinhar com os demais produtos do banco nesta temática. Para isso, o banco decidiu dissolver o Conselho Consultivo do fundo, que se reunia trimestralmente e foi importante para estabelecer parâmetros de investimentos quando mal se falava de sustentabilidade no Brasil, em 2001.
“Hoje já não temos mais o conselho, mas contamos com a metodologia global. Antes, tínhamos uma análise interna de cerca de 200 companhias que avaliamos ao longo dos anos a partir de dados públicos disponíveis no Brasil e coletados pela equipe. Agora, temos acesso a dados prontos e mais completos, já que temos acesso a uma base de dados muito maior, mais elaborada e atualizada pela equipe em Madri”, explica Luzia.
Parte de seu trabalho agora é fornecer mais dados para a matriz sobre as empresas brasileiras para que o país seja observado em nível global. “Com a análise prévia deles, consigo me dedicar mais ao que falta e olhar mais a fundo as empresas”, completa a analista.
A expectativa é relançar o Ethical nos próximos meses. Agora, a equipe de gestão está concentrada em adaptar sua carteira a questões relacionadas a mudanças climáticas, usando, por exemplo, parâmetros internacionais do Paris Agreement Capital Transition Assessment (Pacta). Essa foi uma das frentes mais desafiadoras para gestores ESG, mas também uma das que mais avançou nos últimos anos.
Em paralelo, a gestora lançou na semana passada um novo fundo de ações na temática ESG, o Global Equity ESG Reais IE, desenvolvido em parceria com a gestora holandesa especialista no tema Robeco.
O acesso, por enquanto, está restrito a investidores qualificados, que tenham ao menos R$ 1 milhão em investimentos. Isso porque o fundo é global e a lei brasileira tem restrições sobre o oferecimento deste tipo de produto ao investidor pequeno. A aplicação mínima é de R$ 50 mil e a taxa de administração aqui de 1% ao ano.
“A gente atende duas necessidades simultâneas do investidor: poder diversificar fora do Brasil com o atual juro baixo e investir em um produto com selo ESG, aplicado em 150 a 200 empresas no mundo, selecionadas a partir de critérios de sustentabilidade”, diz Abreu.
Internacional
O novo fundo ESG faz parte ainda de um segundo movimento que a Santander Asset está fazendo, que é ampliar seu portfólio internacional. Na semana passada a casa lançou no Brasil o fundo North American Equity, em parceria com o Morgan Stanley e destinado a investidores qualificados. O foco é investimento em ativos globais.
Outros produtos tanto ESG quanto internacionais devem chegar ao Brasil em breve, segundo o executivo.
Mudança no varejo
Além de fazer essa grande aposta na ESG e ter uma agenda de novos produtos internacionais, a gestora do Santander está trabalhando para simplificar sua grade de produtos.
“Temos feito duas coisas simultaneamente: rever toda a grade de produto da asset, simplificando projetos de produtos tradicionais DI, renda fixa, e, ao mesmo tempo, democratizando a oferta dos produtos, que agora passam a estar disponíveis a partir de R$ 100”, conta ao Valor Investe o executivo.
Todos os fundos de varejo (pessoa física, Van Gogh e Select) vão sofrer redução da aplicação mínima para R$ 100, com exceção dos fundos para qualificados, que não tiveram ticket mínimo reduzidos. A implementação começou semana passada e até 3 de agosto 100% dos fundos de varejo do banco terão redução de ticket mínimo para R$ 100.
Por fim, a grade de produtos de terceiros e de parceiros deve aumentar na plataforma. “Dentro da grade de produtos, sempre queremos ter a melhor oferta possível. Se um fundo próprio não estiver performando bem, podemos oferecer outros, de terceiros”, comenta o executivo.
VALOR INVESTE. Santander vai relançar fundo Ethical e ampliar portfólio ESG e internacional. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/noticia/2020/07/23/santander-vai-relancar-fundo-ethical-e-ampliar-portfolio-esg-e-internacional.ghtml. Acesso em: 24 jul. 2020.