A prefeitura da maior cidade do país já usa softwares de startups para fazer uma melhor gestão de resíduos e está colhendo bons frutos e economizando milhões de reais
O mercado de venture capital cresce de forma assustadora. Mesmo durante a pandemia esse mercado conseguiu se manter, ainda que, globalmente, sofreu uma leve retração quando comparado com os últimos anos.
Algo que vem chamando atenção, principalmente para o consumo, são empresas que trabalham com tecnologia e geram impacto social positivo. Um exemplo interessante é o mercado de resíduos.
Estima-se que produzimos cerca de 2 bilhões de toneladas de resíduos por ano em todo mundo. Esse número é impressionante, mas o que assusta é que, aqui no Brasil, quase metade (41,3% Abrelpe, 2019) dos resíduos não tem a destinação ambientalmente adequada. Isso causa grandes impactos negativos para a sociedade e para o meio ambiente.
De acordo com Raphael Guiguer, COO da Greening Hub, só a Cidade de São Paulo, um dos maiores centros urbanos do mundo com mais de 12 milhões de habitantes, gera cerca de 20.000 toneladas de resíduos por dia. Isso representa cerca de 8% de todos os resíduos gerados no Brasil.
A prefeitura da cidade, por meio da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) tem a difícil missão de gerir toda a geração e movimentação de resíduos na cidade para garantir que todos estejam de acordo com a legislação e que os resíduos tenham a destinação ambientalmente adequada. Até abril de 2019, todo esse processo era 100% manual e envolvia a ação física de empresas, prestadores de serviço, e especialmente da Amlurb para controlar todo o processo.
Em abril de 2019, a cidade promulgou uma lei que regulamentou o sistema digital de monitoramento, o CTRE – Controle de Transporte de Resíduos Eletrônico. Desde então, os registros municipais saltaram de cerca de 16 mil empresas cadastradas para quase 680 mil, além de trazer para a formalidade centenas de prestadores de serviço que atuavam nesse mercado.
Vale comentar sobre o software fornecido gratuitamente por uma startup chamada Plataforma Verde. Utilizando blockchain para controlar todos os registros de geração e movimentação de resíduos, o programa traz mais confiabilidade e eficiência para a prefeitura e para as empresas. Simples de usar, com QR codes e uso de aplicativos, o sistema passa a se tornar um aliado das empresas e estimula de forma educativa que todos sigam a regulação em vigor.
Em pouco mais de 1 ano, o uso do software pela prefeitura permitiu que se tivessem dados atualizados e reais sobre a geração de resíduos para formular e direcionar as políticas públicas que incentivem a destinação adequada, como a reciclagem. Ao mesmo tempo, proporcionou economias aos cofres públicos em mais de R$130 milhões, afirma, ainda Raphael Guiger.
O grande sucesso do CTRE em São Paulo, que conta com o apoio de várias entidades de classe do mercado e com resultados tangíveis para todos, está levando outros municípios de diferentes estados a se interessarem pelo serviço – há, inclusive, outros países analisando a implementação do programa.
Tendência global
O uso de tecnologia como ferramenta para permitir o desenvolvimento sustentável é uma tendência inegável. Diferentes aplicações e startups têm chamado a atenção pelos resultados de impacto ambiental e social que proporcionam aos seus clientes.
Fundos de investimentos como Venture Capital e Private Equity estão cada vez mais interessados em incluir nos seus portfólios empresas preocupadas e ativas em questões socioambientais e com sólidos princípios de governança.
No começo deste ano o banco de Nova York Citi anunciou um novo fundo denominado Citi Impact Fund, para destinar 150 milhões de dólares para investimento em empresas que focam em tecnologias que geram impacto social positivo. A sigla ESG (Environmental Social and Governance, em inglês) tem se tornado foco dos fundos de investimento, não só pelo retorno que proporcionam aos seus acionistas, como também pelo impacto positivo que causam na sociedade e no meio ambiente.
De acordo com Raphael Guiger, essa é uma tendência que iniciou lentamente, mas que se acelerou no último ano. No início desse ano, a carta aberta do CEO da BlackRock, um dos maiores fundos de investimentos do mundo, causou impacto por colocar a sustentabilidade de forma destacada na matriz de decisão.
Com os impactos disruptivos da pandemia de Covid19 e a parada forçada na economia global, ESG ganhou ainda mais destaque. Europa, Estados Unidos e muitos países asiáticos têm discutido o Green New Deal, no qual a retomada econômica deverá ser pautada no desenvolvimento sustentável.
De uma forma geral startups como a Plataforma Verde, desempenham um papel muito relevante para a sociedade, e este tipo de valor é algo que os consumidores estão cada vez mais interessados no momento do consumo.
Produtos que tem um efeito de consumo positivo para o meio ambiente vai ser cada vez mais importante para as novas empresas, e também para estruturas que já atuam no mercado para se posicionarem neste setor que veem crescendo nos últimos anos, inclusive o mercado de aquisições destas novas empresas vem aquecendo conforme os anos e deve se manter e crescer cada vez mais.
VALOR INVESTE. O impacto da tecnologia em sustentabilidade: o case de São Paulo. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/blogs/seu-negocio/post/2020/07/o-impacto-da-tecnologia-em-sustentabilidade-o-case-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 13 jul. 2020.